Olá queridas e queridos! Feliz 2016!!

Como muitos puderam acompanhar no grupo do Almanack no Facebook, passei uma temporada no Líbano e postei pequenos textos sobre a vida no Líbano, a cultura árabe e o funcionamento da sociedade libanesa. Mas ainda tenho muita coisa para contar!

Gostaria de começar falando, novamente, sobre o Dabke.

O dabke, ou melhor, os dabkes (já que há dezenas de variações), são motivo de orgulho para os libaneses. Como expliquei neste post, muitas das letras das músicas usadas para dabke são nacionalistas.

Isto sugere um caráter político associado à modalidade já que, através da socialização da dança, reforçam-se os laços entre amigos e familiares, além da sensação de união do Líbano enquanto país autônomo, o que carrega uma simbologia forte, visto que o Líbano já foi colonizado por diversas vezes e que muito recentemente regimes estrangeiros vizinhos dizimaram muitas famílias libanesas.

Diariamente, bailarinos de dabke aparecem na televisão junto a cantores executando clássicos libaneses, e toda festa de casamento ou noivado (que no Líbano são festas quase tão grandiosas como os casamentos) que se preze tem uma roda de dabke. Existe até um verbo para “dabkear” em árabe libanês.

Na festa de noivado que narrei no grupo, em dado momento, a roda de dabke já estava “fervendo” quando o DJ tocou uma música egípcia. E os convidados, claro, continuaram na roda!

Outras variações de dabke, sobre as quais no momento não posso falar com a mesma propriedade por não ter tido vivências e pesquisas em outros países, são dançadas na Síria (inclusive com o mesmo caráter político e social), na Palestina, na Jordânia, em Israel e no Iraque (neste caso, quando dançada por homens, chamada por alguns de “Raqs el Rajl” – “dança dos homens”), como no vídeo abaixo.

Deixo aqui, para abrir o ano, duas reflexões sobre isto. Primeiramente, enquanto bailarinas brasileiras, ao representar o dabke, que dabke estamos representando? Conhecemos suas reais motivações e inspirações? Conhecemos a letra da música que dançamos?

Por fim, alfineto: será mesmo que é honesto dançar dabke ao som de músicas egípcias só porque libaneses fazem quando estão felizes e embriagados? Dançar dabke fazendo shimmie de quadril? Usar abeys no estilo em que os libaneses usam apenas para ficar em casa? Ou será que está faltando pesquisa e respeito com os povos que queremos homenagear no Brasil?

Um forte abraço e até o próximo post!

Rebeca

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