Olá, belly-entusiastas!

O Zaar é um ritual religioso de cura com origem aproximada no século XVIII, realizado hoje especialmente na Etiópia, no Egito, no Sudão, na Somália e no Irã.

Apesar de proibido pela Charia, a lei islâmica, determinada principalmente pelo Corão e pela Sunnah (conjunto de ensinamentos de Mohammed – Maomé – transmitidos oralmente), o Zaar é elemento importante da cultura destes países e sua prática vem resistindo à repressão há séculos, servindo como refúgio espiritual especialmente para mulheres e para homens considerados “afeminados” dentro da cultura conservadora islâmica.

O ritual é realizado através de músicas (em geral executadas com base em ritmos monótonos e fortes, dentre os quais o Ayoub), movimentações corporais e alterações de estado de consciência. Há uma hierarquia estabelecida e o ritual é conduzido por pessoas que já possuem prática e estudo no Zaar.

É comum que sejam realizados sacrifícios animais e que os fiéis envolvidos apresentem comportamentos atípicos como gritar e beber álcool. Visa-se expulsar ou pacificar espíritos (ou jinns) que, crê-se, apresentam-se em formas femininas e masculinas, boas e más. Há vertentes dentro do cristianismo e até mesmo dentro do judaísmo, e os nomes e interpretações sobre cada um destes espíritos pode variar de acordo com elas.

O documentário abaixo mostra algumas cenas de Zaar filmadas no Irã.

Amig@s bailarin@s e amantes da cultura árabe, especialmente quem já passou pela “escola” do “tocou um ayoub na clássica! Tem que fazer zaar!“, proponho aqui uma reflexão.

O quão desrespeitoso vocês acham que é, durante uma dança performática, fazer uma caricatura de uma prática religiosa que mal conhecemos?

A prática de associar as duas “modalidades” é quase institucionalizada no mercado bellydance brasileiro. Em alguns concursos e bancas, por exemplo, não “fazer o zaar” seria interpretado como deficiência de conhecimento musical e cultural. Mas o quanto estamos estudando de fato o ritual e representando-o no palco com o respeito que seus praticantes merecem?

Ironicamente, em camarins, é comum escutar-se comentários do tipo “chuta que é macumba“, “vou fazer chapinha pra não parecer que toco tambor” ou outros comentários preconceituosos com relação a religiões brasileiras de matriz africana, que têm muitas semelhanças com o Zaar.

Fica aqui minha humilde contribuição e a proposta de que repensemos determinados valores dentro de nosso mercado e dentro de nossas posturas cotidianas.

Com este post, encerro as publicações de 2015 no Almanack. Entrarei de férias dele e do BellyLab entre dezembro e janeiro e voltarei “com tudo” em fevereiro!

Deixo aqui meu agradecimento muito especial à Sueli Feliziani pela revisão do texto e à Aysha Nur por ter me apresentado este documentário incrível.

Muito obrigada por acompanhar o Almanack! Vejo você em 2016, com muitas surpresas!

Abraço forte e até breve!

Rebeca.

Fontes: “The Zar Revisited” por Karol Harding, Encyclopædia Iranica e Wikipedia.

Sobre Zaar e Dança do Ventre by Rebeca Bayeh is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.